escrito por Maria Chantal

( pra matar a saudade [banzo] do continente africano)
O historiador e escritor Runoko Rashidi, traz uma pesquisa de décadas sobre a presença africana em diversos lugares do planeta. Uma das mais conhecidas e que pra mim é surpreendente é a que se baseia na civilização Olmeca. Em uma publicação em sua página ele escreveu:
"A civilização olmeca é universalmente considerada a civilização mãe das Américas e a característica mais notável e visível sobre a civilização olmeca são vinte cabeças de pedra maciças com características africanas. De 2014 a 2018, levei cinco grupos de turismo ao México para ver essas cabeças. E a conclusão a que cheguei é que não só houve uma presença africana difundida e influente no México desde os tempos mais antigos, mas que no auge da civilização olmeca no antigo México reinou uma dinastia de reis africanos."
Ele continua:
"Sim, percebo a magnitude e as implicações do que estou dizendo. Sei que vai além dos parâmetros do que somos levados a acreditar sobre os africanos nas Américas. Eu sei que vai além do reino da escravidão. Mas a evidência é indiscutível de que os africanos estavam bem estabelecidos nas Américas, particularmente no México, tanto antes de Colombo quanto muito antes do comércio transatlântico de escravos."
Runoko Rashid já esteve no Brasil, e tive o prazer de assistir a palestra dele no centro do Rio de Janeiro, no ano de 2017. Lembro de como sai de lá feliz e nutrida, pois enquanto pessoa africana, é precioso demais aprender as várias narrativas da história, principalmente aquelas que vão além da narração colonial. Outros teóricos que você pode se dedicar a ler são Ivan Sertima, a partir do livro They Came Before colombus" e George James, escritor de Legado Roubado.
A presença africana esteve, está e estará aqui. Este guia nasce de uma inquietação minha, a falta de presença Africana na maioria dos eventos aqui no Brasil, mesmo os que falam sobre negritude e diáspora africana. Não chamar os africanos que residem aqui é não reconhecer a nossa existência, conhecimento e contribuição social. Nós não somos o passado, somos o presente e o futuro também. Nós estamos aqui. Então, se não falarão sobre nós, o jeito é que sejamos nós os responsáveis por isso.
BANZO | Mbanza
( não leia "eme"banzo, traga o som nasal, como que se faz quando falamos "hummmm" e leia o restante. Exemplo: Hummm...banzo).
De acordo com a psiquiatra e pesquisadora da Unicamp, Ana Maria Galdini, a palavra que no português é utilizada para falar de uma nostalgia, quase ou de fato, psicopatológica, que era experimentada por africanos que foram trazidos as américas na condição de escravos, pode ter origem no Kikongo, em que existe a palavra Mbanzo, que significa pensamento ou do kimbundo | quimbundo, na palavra Mbanza, que pode ser traduzida por ser pego de surpresa, se espantar e o ato de pensar continuamente em algo. De acordo com o dicionário português Houaiss, banzo é o resultado da flexão do verbo Mbanza , que fala sobre " saudade da aldeia e, por extensão, da terra natal". O que na prática aponta o desenvolvimento de psicopatologias geradas pelo sequestro e distanciamento de casa, causadas pelo tráfico transatlântico de africanos trazido para as américas na condições de escravos. Um tipo de saudade que se não enlouquecia, deprimia ou provocava suicídios, pois a morte era melhor do que estar na condição de escravizado dos europeu.
Banzo: "Processo psicológico pelo qual passavam os negros africanos escravizados que, em razão da serem levados para terras longínquas, ficavam num estado profundo de nostalgia, loucura, podendo levar à loucura ou à morte."
- dicionário português Houaiss
O Brasil é o país que mais recebeu africanos em condições de escravizados, cerca de 40% desse contingente de homens e mulheres, Somente o Brasil recebeu cerca de 38 milhões de pessoas, que vieram de diferentes partes da África e trouxeram consigo a língua, a cultura e a forte espiritualidade.* Se no passado a vinda foi por conta de um sequestro transantlantico, hoje em dia africanos continuam vindo ao Brasil, seja por turismo, estudo ou trabalho.
Um bom material que retrata a vinda de pessoas do continente africano ainda continua a acontecer é a reportagem Maré Angola, desenvolvida pelo Data Labe, em junho de 2018. A matéria fala sobre como desde o final dos anos 1990 , especificamente, os angolanos tem vindo ao Rio de Janeiro, capital e sobre como a Maré, ( Zona Norte do RJ) é um dos lugares mais escolhidos. Pela aproximação política e os acordos que Brasil e Angola tiveram, em 2002, primeiro ano do governo Lula.
E se você quiser fazer uma pesquisa visual para ver os números dessas imigrações, recomendo o Observarório das migrações, por lá você vai ter dados que entre 2000 e 2022 se registraram no Brasil 21.377 angolanos. Vale lembrar que essa é uma quantidade estimada, que provavelmente existe no país uma parcela muito maior de angolanos ou estrangeiros de outros países africanos. O próprio site destaca que "as informações do sistema são informações que não estimam o total de imigrantes internacionais residentes no país. Uma vez emitido o RNM, a pessoa permanece na base do SISMIGRA, mesmo tendo falecido ou deixado o país tempos depois. Tampouco estão inclusos os indocumentados ou solicitantes de refúgio. A essa limitação somam-se os problemas de preenchimentos da informação, grande quantidade de perguntas sem respostas e a não compatibilidade da variável Ocupação com classificações reconhecidas internacionalmente."*
Então se podemos afirmar que tem milhares de africanos no Brasil, e em sua maioria são vindos de países também lusófono, ou seja, são falantes de língua portuguesa, e ela não funciona enquanto impeditivo pra se inserir socialmente. Cadê os africanos no Brasil?
Esse guia tem a intenção de responder essa pergunta, além de funcionar como um mapa para facilitar a interação de Brasileiros com eventos e locais das diversas comunidades africanas. Acredito que inicialmente a maioria será de indicações relacionados a comunidade angolana, pois é a que eu faço parte e tenho maior conhecimento, porém o objetivo é que futuramente e com mais recursos esse guia cresça e traga indicações que possam representar os 54 países africanos.
Vamos as indicações:
Eventos:
Descolonize Seus Quadris

Criado pela Angolana, Maria Chantal, como uma plataforma para o compartilhamento de conhecimento teórico e pratico sobre prazer e movimento pélvico afro referenciado.
Descolonize Seus Quadris virou uma comunidade que une mulheres de diversas raças que tem o objetivo de experimentarem o prazer de vida inteira, através do rebolado e com elementos da ginecologia natural.
Descolonize Seus Quadris saiu de um curso, e se desdobrou em uma playlist. e agora nesse guia cultural. Então, desfrute e compartilhe
Próximas aulas:
online • Ao vivo: 04/Junho a 16/Julho: Garanta sua vaga
Presencial • ( Em breve maiores informações)
FESTAS:
Afrikaliente | @afrikaliente
Uma das maiores festas africanas no Brasil, já trouxe nomes como Gerilson Israel e a Diva Ary.
Já teve edições em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e no dia 27 de Maio traz pra São Paulo novamente o Baile de Wakanda, em comemoração ao dia da União Africana, celebrado mundialmente como dia de África, em 25 de Maio.
"Vista uma peça de roupa africana e venha comemorar esta data especial no Baile da Wakanda." É a recomendação do dress code.
Compre seu ingresso por aqui: ingresso
Bandula | @bandulafest

"Não é apenas uma festa, é uma experiência!". Este é um evento que une as suas diferentes vivências e pesquisas musicais de DJs de diferentes regiões.
Produzida por uma brasileira e um angolano, Bandula promove uma imersão cultural através da gastronomia, bebidas e drinks, para além da música.
O proximo evento da Bandula é o Baile de Wakanda, que está produzindo juntamente com a Afrikaliente.
Triplex Barra Funda - São Paulo, SP
27 de Maio de 2023, 22h00 - 28 de Maio de 2023, 06h00
Okupiluka | @okupiluka
"Okupiluka é um verbo oriundo da língua umbundo, de Angola. Que pode ser traduzido por dançar. Além disso, também é um movimento cultural, que visa a disseminação das culturas africanas concernente a música, dança e outras formas de manifestação cultural, a partir de uma perspectiva histórica e atual." Explicam os organizadores.
Confesso que essa é a minha festa favorita no Rio de Janeiro. Em uma das minhas idas ao consulado de angola, no centro do Rio, conheci o DJ Joss Dee, que falava sobre uma festa que iria organizar com outros conterrâneos. No evento conheci o Kadix e os outros produtores dessa que pra mim é uma experiência cultural.
Esteja ela ocorrendo em Madureira ou no Centro do Rio, te recomendo estar presente.
Próximos eventos:
09/Junho/2023 • 17 - 23Hrs • Centro RJ
10/Junho/2023 • São Paulo
Compre seu ingresso por aqui: ingresso
( Aguarde as próximas atualizações e faça sugestões nos comentários )
Observação: Esse guia não é um ataque a nenhuma pessoa ou instituição. Mas uma forma de ajudar pessoas nascidas no Brasil que tem um desejo de se conectar com a cultura africana, sem cair na ideia de uma África miserável, doente ou a ideia de uma bloco mítico, sem suas pluraridades e atualizações.
Bibligrafia:
The african presence in the OLMEC world: https://www.facebook.com/OLMEC2015Family/photos/a.539952552825197/1624323794388062/?type=3
Site, Runoko Rashid:
http://drrunoko.com/
Ivan Sertima, They Came Before COlombus
George james, Legado Roubado
Ana Maria Galdini, Banzo: https://www.scielo.br/j/rlpf/a/XsH4RvsyCmxJzydsfgTgvKS/?lang=pt
Banzar: https://www.dicio.com.br/banzar/
Diaspora negras: https://secom.ufg.br/n/13766-diaspora-negra
Data Labe, Angolanos no Brasil: https://datalabe.org/mare-angolana/
Juliana Marques, Buscando dados sobre a comunidade angolana no Brasil: https://medium.com/data-labe/assim-que-come%C3%A7amos-o-mapeamento-das-informa%C3%A7%C3%B5es-que-gostar%C3%ADamos-de-trazer-na-mat%C3%A9ria-sobre-os-247304cc4bea
Observatório das imigrações em São Paulo | Imigrantes internacionais registrados no Brasil: https://www.nepo.unicamp.br/observatorio/bancointerativo/numeros-imigracao-internacional/sincre-sismigra/
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